domingo, 4 de novembro de 2012

Cada um sabe a dor de adaptação e o peso da máscara que usa


 Já faz um certo tempo que não escrevo sobre mim e sobre o que sinto. É até engraçado que a maior parte dos posts do meu blog pessoal sejam depressivos. Sou uma pessoa alegre, inclusive lembrada por isso, porém sempre venho até aqui é por que estou triste ou me sentindo um pouco perdida!

É complicado reconhecer isso! Sempre ouvi dos meus amigos, desde pequena, que eu era determinada e que sabia o que queria. O que eu quero eu sei, mas será que o fato de saber o que eu quero vai garantir que eu não fique perdida nos caminhos? Seria completamente fácil e simplista se a vida nos oferecesse apenas o caminho verde como o correto e o vermelho como errado.

Feliz ou infelizmente são inúmeros os caminhos que se abrem diariamente em nossas vidas. Como saber se os caminhos azul, rosa, laranja, branco, lilás e de todas as outras inúmeras cores vão nos fazer bem ou mal? Criar máscaras para tentar criar barreiras de proteção contra a decepção, medo e frustração é bom ou ruim? Tentar inventar mecanismos que ligam e desligam sentimentos é bom ou ruim?

 Não consigo saber e também não consigo saber se é correto usar desses artifícios. Quem sabe a única coisa correta seria viver sem medo. Eu conseguiria arcar com os ônus disso? Quem pode me garantir que sem os mecanismos de autorregulação eu seria uma boa pessoa? Há 50% de chances de ser uma pessoa extremante ruim! Conter os riscos é uma das regras da pós-modernidade não é?

Uma vez um amigo, isso há exatamente 9 anos, me disse que o meu grande problema é que eu era apaixonada pela literatura e, sendo assim, eu me apaixonava pelos personagens que faziam parte do mundo que eu criava entre os livros e eu. Este meu amigo me disse ainda que eu não conseguia tolerar as pessoas que não conseguiam penetrar o meu mundo, por não terem conhecimento dos personagens ou dos livros. Acho que ele tinha um pouco de razão.

O meu mundinho da arredoma é bem mais interessante. Lá as pessoas são descritas e explicadas em capítulos, mesmo os personagens mais fascinantes e imprevidiveis já foram explorados e decifrados. O mundo real é um desafio maior, um grande desafio que, com muita frequência, quero me desligar dele para correr o risco de fracassar em alguma batalha. O medo do fracasso me assusta. É o medo mais aterrorizante! É quase impossível conviver com ele.

Para disfarçar esse medo é preciso diariamente inventar e reinventar mecanismos que controlam a ansiedade, a frustração e o medo. Vivo falando que queria ser como os  vampiros que simplesmente decidem desligar a humanidade e deixam de sentir e de se importar com tudo que acontece na vida. Deve ser interessante viver o tempo todo no estilo “play the game”.

Qual o preço disso? Sofrimento, isolamento, medo, terror! Essas são as descrições para a ficção. Para o mundo real os substantivos seriam depressão, pânico, solidão, crise. Acho que o Damon, do Diário do Vampiro, seria o personagem que mais representaria o meu sentimento com relação a isso tudo.

O Damon é um vampiro de 250 anos. Pode escolher entre se importar ou não. Se controlar ou não. Por décadas viveu sem se importar, com o botão da humanidade desligado. A única coisa que o fazia mudar de opinião ou desistir de alguma intenção era o risco de morte, se for certo falar que um vampiro é um ser vivo, do seu irmão Sthefan –que foi transformado junto com ele. O elo de sangue, tanto na ficção quanto na vida real, sempre fala mais alto.

Pelo Sthefan optou por viver com a humanidade ligada– apesar de negar isso diariamente a todos, inclusive a si próprio. Pelo Sthefan passou a se preocupar com amigos, com as pessoas da cidadezinha onde estão vivendo e com o futuro. Mas não admite e não demonstra isso. Sempre ajuda quem precisa, quando é necessário, salva mocinhas, ajuda a cidade. Porém sempre arranja um pretexto para afirmar que o que ele fez não foi por ninguém e sim apenas por ele próprio, pro Sthefan não “torrar sua paciência”.

O Damon é o especialista em mostrar ser quem não é. Completamente nobre, encantador e inteligente, faz questão de aparecer como egoísta, mesquinho e fútil. Prefere que as pessoas não mostrem bons sentimentos com ele, para que não precise se apegar, se preocupar e sofrer com a perda. Imaginem que como vampiro ele já deveria ter se acostumado com a perda, afinal ele é imortal.

Na imortalidade enfadonha, na qual a maior parte das coisas que acontecem são repetições de sentimentos e situações criadas pelas vontades humanas, o Damon tem medo de sentir e de viver de verdade. Prefere apostar na superficialidade e no distanciamento para não sofrer com a perda. É o tipo de personagem que vai, liberalmente, até o inferno, para salvar um amigo mas não quer um obrigada.

O Damon usa a máscara da frieza para esconder o medo de se apegar e ter mais pessoas por quem sofrer o medo da perda, com o qual ele convive diariamente graças ao Sthefan. O vampiro tem medo de perder o irmão que é o único elo que tem com a época em que eram humanos e que podiam viver e sentir como todas as outras pessoas. E por esse medo o Damon é incompreendido e detestado.

O Damon, mesmo sendo um vampiro e como ele diz um caçador, não consegue segurar a sua máscara o tempo. Ela cai e as pessoas percebem que ele não é tão egoísta e distante quanto quer demonstrar. O problema é que ele não abre espaço para as pessoas se aproximarem. O medo, que ele tanto abomina, faz com que ele afaste as pessoas. Ele considera a solidão melhor que a decepção.

Não consigo dizer se o Damon está certo ou errado. Cada um sabe e sente o peso da máscara que carrega e da dor que ela causa na adaptação ao rosto. Lembram do Homem da Máscara de Ferro? É mais ou menos daquele jeito!  O correto então seria que as pessoas nos vissem além das máscaras?

Não posso responder, até por que não sei se deixamos elas se aproximarem a ponto de entender o que é mascara ou não! Na sociedade da imagem estamos, como Damon, sofrendo em máscaras que tem um peso, muitas vezes maior, do que podemos suportar. 

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